Combate Classista

Teoria Marxista, Política e História contemporânea.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

MOVIMENTO OPERÁRIO NO ABC E NA VOLKSWAGEN (1978-2010)

Dissertação de mestrado defendida na UNESP-Marília.
Alessandro de Moura
RESUMO:

Neste trabalho analisamos o processo de desenvolvimento da organização e atuação sindical e política dos metalúrgicos do ABC paulista e dos operários da Volkswagen ABC. Buscamos resgatar o papel que cumpriram durante a década de 1980 e em que condições políticas estão vivenciando contemporaneamente. Para compreender de forma mais alargada as condições, perspectivas e desafios subjacentes aos operários e operárias da Volkswagen, de variadas faixas etárias, foram imprescindíveis a realização de entrevistas. Ainda, buscando lançar luz sobre este campo de investigação, discutimos também os principias desafios colocados historicamente a classe trabalhadora brasileira. Para isso discutimos a principais instituições nacionais que intentaram organizar e dirigir o movimento operário no Brasil. Destacamos o papel cumprido por sindicatos, centrais sindicais e partidos no seio do movimento operário, centralmente o Sindicato do ABC, CUT, CGT. Entre os partidos discutiremos o PCB e o PT, os maiores e mais importantes partidos de esquerda surgidos no cenário nacional. 

Palavras-chave: partido comunista brasileiro; movimento operário no ABC paulista; partido dos trabalhadores; movimento operário na Volkswagen; luluismo.

Texto integral: https://www.marilia.unesp.br/Home/Pos-Graduacao/CienciasSociais/Dissertacoes/moura_a_me_mar.pdf

sábado, 24 de julho de 2010

A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra


O alcoolismo e a classe trabalhadora


Fabio Nunes Silva
Alessandro de Moura


Publicada no verão de 1845,A situação da classe trabalhadora na Inglaterra(2008) hoje é um marco na interpretação crítica do processo de desenvolvimento do capitalismo ocidental. Friedrich Engels nos apresenta uma detalhada análise das condições de vida e de trabalho do proletariado urbano.
Engels deparou-se com essa realidade na Inglaterra, em Manchester, centro da indústria inglesa, onde se fixou em 1842 como empregado de uma firma comercial cujo pai era um dos acionistas. Engels, um jovem não muito afeito ao ambiente almofadado e mesquinho do escritório de uma fábrica, percorreu os bairros operários e viu a miséria social.
Estudou profundamente a situação da classe trabalhadora na Inglaterra através da experiência direta, das obras dedicadas ao tema e dos documentos oficiais que pôde consultar.
Escrita entre os anos 1943 e 1944, esta obra revela não somente uma descrição corajosa dos bairros operários ingleses, mas também a trajetória de um jovem intelectual oriundo da burguesia alemã se aproximando de uma concepção histórica e revolucionária do mundo que visa o fim da dominação de sua própria classe sobre os despossidos dos meios de produção. Durante sua estada em Manchester, o jovem escritor entra em contato com o movimento operário inglês e a partir daí fortalece seus laços com uma concepção socialista do mundo.
Percorrendo os bairros operários de grandes centros industriais como Manchester, Birmingham, Leis, Liverpool, Engels descreve minuciosamente a miséria social que assola estes locais. Por toda a parte o que há é fome, cansaço e doenças. Miséria total, o salário pago pelas fábricas inglesas não garante a sobrevivência da classe trabalhadora. Não paga a comida, o teto, a roupa, o remédio e outras coisas necessárias para um ser humano se manter vivo.
O que este jovem burguês vê é o espetáculo da merda a céu aberto. As casas estão amontoadas, há lixo pelas ruas, Engels fala de crianças deformadas por mais de dez horas de trabalho forçado no chão das fábricas, do corpo de uma mulher abandonado num monte de palhas, do trabalhador embriagado perambulando por toda esta miséria.
Para Engels, um crítico radical do capitalismo, centenas de vidas são eliminadas todos os dias por causa da busca incessante da nascente burguesia por explorar ao máximo o trabalho dos operários na Inglaterra. Burguesia que desde o século XV vem intensificando sua atuação insandecida como classe social dominante no Ocidente. Os bairros operários são miseráveis porque a burguesia precisa de mão de obra barata, precisa de miseráveis para ocupar as piores funções na produção capitalista.
Em dialogo profundo com o texto de Engels, Karl Marx, no texto Manuscritos econômico-filosóficos de 1844 destaca que a classe trabalhadora pobre constrói palácios para os burgueses e é obrigada a morar em barracos improvisados. A miséria social instalada é necessária em uma sociedade onde a exploração extrema do meio ambiente e dos seres humanos sem propriedades gera enormes lucros. Sem a exploração das riquezas naturais e da classe trabalhadora a burguesia não constrói suas fortunas. É nesse sentido que se pode afirmar que a burguesia têm as mão sujas de sangue. Trata-se, se nos aproximarmos de Engels, de uma classe social assassina.
Assassinato social, com este conceito Engels vai denominar as inúmeras mortes levada a cabo pela ordem social capitalista, dirigidas pelas burguesias. E conforme o autor, são várias as formas que esta classe social utiliza para cometer seus crimes.
Além da imposição da superexploração aos trabalhadores e trabalhadoras despossuídas de meios de produção, de atirá-los em habitações insalubres, da degradação da saúde, da expropriação do vigor físico, da alienação da criatividade, conforme Engels, a produção e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas é mais uma das formas de assassinato social.
Engels dedica um capítulo desta obra à análise das conseqüências do alcoolismo sobre os trabalhadores e trabalhadoras pobres da Inglaterra. Descreve jovens e idosas vitimadas pela produção e consumo de álcool.

Alcoolismo e Miséria

O mundo é vasto e velho e por isso não podemos afirmar que toda bebida alcoólica consumida foi em nome da miséria humana. Outros povos, utras histórias e mesmo nas sociedades capitalistas não podemos trabalhar com tal afirmativa. Pois nem tudo que é bebido, fumado, cheirado ou inalado é resposta ao desespero de se sentir só. Nem tudo que delira sofre. O álcool também pode participar de uma verdadeira celebração, de um reencontro do ser humano consigo mesmo.
Mas no capítulo dedicado ao alcoolismo por Engels, o que temos são condições de miséria social tão profundas que articuladas à solidão, o desespero etc, levam aqueles seres humanos à buscar formas imediatas de alivio no álcool. Nesse sentido, as bebidas alcoólicas aparecem como um instrumento eficaz de controle e uma arma utilizada para matança da classe trabalhadora. As bebidas alcoólicas como tática de “domesticação” e destruição do ser humano.
Como mecanismo de controle, faz com que o trabalhador sublime seus sofrimentos diários, ao invés de se revoltar contra o trabalho extenuante e se organizarem contra a minoria patronal, o trabalhador que se alcooliza para fugir da dura realidade cotidiana degradante e precária vai adoecer e se lançar num estado delirante altamente danificado.Aos poucos, de gole em gole, o álcool destrói diretamente garganta, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, neurônios etc (ver efeitos do álcool no Google), sem se falar em seus efeitos físicos indiretos. Socialmente também é comum a pessoa alcoolizada canalizar suas frustrações cotidianas sobre pessoas não diretamente envolvidas na produção de sua opressão. Bêbados, os trabalhadores brigam entre si e tendem a esquecer e/ou desviar a parcela de responsabilidade do patronato, dos ricos, e da burguesia sobre a miséria social a qual os trabalhadores estão imersos.
Estamos fora de qualquer celebração, estamos no terreno da produção e do consumo capitalistas, onde o mais importante é o lucro e a manutenção das sociedades burguesas. O álcool aparece aqui como mais um paliativo, um “remédio” para a insanidade moderna. Uma forma deprimente e ilusória de abrigo entre corpos deformados pela violência do trabalho exausto e de tantas outras formas de opressão.
No lugar do coletivo organizado ocupando fábricas, o corpo frágil dos trabalhadores vitimados pelo consumo excessivo de álcool. Depois de dezesseis, dezoito horas de trabalho forçado no chão de uma fábrica, a classe trabalhadora corre desesperadamente atrás de um copo de alguma bebida alcoólica geralmente barata e de péssima qualidade, uma forma mais acessível de relaxamento físico.
O corpo ganha novos movimentos, estes não são compassados pelo tempo das fábricas, por poucos centavos a liberdade temporária, o lúdico momentâneo enfeita a jaula de ferro, torna doce e macio o anzol do operário. Para Engels, amortecida, culpando-se por estar jogada nas piores formas de vida e habitação, adoecida, inválida, a classe trabalhadora, lançada ao microcosmo do fracasso individual, encontraria dificuldades para organizar uma revolução social.

Engels como tática e a publicidade da indústria do álcool

Num exercício de pensar as análises deste autor nos dias atuais, tentaremos aproximar suas idéias desenvolvidas no capítulo dedicado ao alcoolismo a alguns elementos de campanhas publicitárias das marcas de cervejas Kaiser, Brahma e Antarctica.
Ou seja, trata-se de campanhas publicitárias milionárias. Estamos no terreno rentável das negociações burguesas. Marcas de cervejas vendidas em grande escala através dos inúmeros meios de comunicação, agências publicitárias, donos de bares, restaurantes, motéis, postos de gasolina, governos municipais, estaduais, federais, e por que não envolvidas em lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, armas, mulheres, crianças, homens, aves, anfíbios, répteis, plantas, minérios etc. Conforme mencionado acima, trata-se de uma classe social criminosa, assassina.Portanto, estes trabalhos publicitários não são apenas frutos da imaginação fértil de alguns publicitários e publicitárias, mas o trabalho de uma enorme rede de interesses que envolvem milhões em dinheiro. Desenvolver estes trabalhos exigem dos seus executores uma dose significativa de subordinação e eficiência. Os publicitários, os técnicos, as atrizes, os diretores, envolvidos nestas campanhas precisaram se adequar aos interesses gerais da empresa ou muito provavelmente iriam perder o cliente.

A Publicidade Burguesa anti-operária.

As burguesias, através de todos os meios encontrados dedicou parte de sua vida enquanto classe subordinando hierarquicamente negros, mulheres, homossexuais, enfim, toda vida considerada por ela ser indigna de ser vivida. Exércitos, polícias, escolas, meios de comunicação, manicômios, prisões, campos de concentração, para se manter enquanto classe dominante, a burguesia precisou, precisa e vai precisar investir pesado nos aparatos de repressão para não perecer. Ela reconhece o poder de ataque de seus inimigos mais imediatos. Ela sabe que se cochilar o cachimbo cai na luta de classes.


Branco, adulto e bem-sucedido



Para se manter enquanto classe dominante as burguesias precisam construir suas armas, constroem suas prisões, fazem suas campanhas publicitárias, vendem cervejas, cachaças etc. Tem que enganar, matar, esconder etc.
Em novembro de 2009 a marca de cerveja Kaiser, associada à Ambev, iniciou mais uma nova campanha publicitária. Ela também compreendeu dois filmes publicitários, um de um minuto e outro de trinta segundos, estrelados pelo ator Humberto Martins.Humberto Martins participou de inúmeras novelas da Rede Globo como Barriga de Aluguel (1990), Vira-Lata (1996), Kubanacan (2003), Pé na Jaca (2007) e Caminhos das Índias (2009). É figura recorrente nas revistas de grande circulação sobre artistas e novelas.
Numa sociedade como a burguesa, onde os homens adultos e brancos em geral monopolizam maior poder, são os homens brancos e adultos que protagonizam a maioria destes comerciais de cervejas promovidos pelas burguesias, classe social que historicamente difundiu o racismo, machismo, homofobia etc.
Na publicidade burguesa o clima de perseguição não parece diferente. Em geral, as campanhas publicitárias burguesas (ou a serviço das burguesias) constroem suas imagens a partir de inúmeros estereótipos pobre-fóbico, racistas, machistas e homofóbicos.O ator está sorrindo neste filme. Sorriso saudável. Devidamente vestido com sua camisa branca, transpira saúde e uma suposta felicidade. Seu corpo parece másculo sob a roupa e seus braços são rijos. Ao lado de uma garrafa de cerveja é um homem de destaque nacional. Em hipótese alguma parece um homem debilitado pelo consumo de álcool. Sua imagem, ao contrário, está ligada á uma idéia burguesa de homem bem sucedido. Em nenhum momento à ligamos ao homem embriagado caído na calçada ou internado em alguma clínica de desintoxicação.
Cria-se um cotidiano dominado pelo mito de uma felicidade privada absurdamente hedonista. Um cotidiano do desejo, dos prazeres mais imediatos. Por toda a parte encontramos nestas campanhas um bem-estar burguês. Humberto Martins representa um homem ideal, branco, adulto, saudável ebem-sucedido.


Mulheres




Neste anúncio da marca de cerveja Brahma temos um caso típico do tratamento dedicado às mulheres nas campanhas publicitárias, protagonizada por Sheila Melo e Sheila Carvalho, ex-bailarinas do conhecido grupo musical É o tcham!.
São duas mulheres contratadas. Biquíni vermelho, pela bronzeada, corpo atlético, olhares insinuosos. Um topless disfarçado com meia dúzias de garrafas. O que elas estariam pensando?
Provavelmente não estão pensando em se organizar para acabar com as estruturas machistas que oprimem historicamente as mulheres. Esta propaganda afirma esta exploração. Quem são estas mulheres? O que realmente vivem?
Em geral estas mulheres não são vistas como seres complexos e contraditórios. São duas mulheres de biquíni vermelhos segurando algumas garrafas de cervejas. Neste caso o corpo feminino se transforma num suporte sexualizado para garrafas de cervejas da marca Brahma. Isso. Um objeto, como um freezer, um balcão, uma mesa etc.
Sheila Melo e Sheila Carvalho foram contratadas como modelos fotográficos, esta imagem em hipótese alguma dá conta de suas vidas. São seres humanos complexos e contraditórios. O biquíni e a cerveja são elementos deste trabalho e não o resultado de suas existências.
Parece não haver lugar para mulheres enquanto seres complexos e particularmente para as que contestam esta atual situação. O modelo de mulher idealizado por estas e outras campanhas publicitárias não podem ser contestado, ele somente deve ser aceito como verdade universal e não como um projeto específico de mulher e ser humano de uma classe social específica, intitulada burguesia.
E se no dia desta sessão de fotos as duas modelos chegam organizadas com outras pessoas para ocupar a agência publicitária e transformá-la num núcleo de propaganda anti-capitalista? A teórica revolucionária alemã Rosa Luxemburgo seria um perigoso empecilho para os idealizadores destes comerciais burgueses.

Crianças e dóceis idosos

As crianças não protagonizam estas campanhas devido ao teor alcoólico do produto anunciado. Como se na realidade não existisse um número
significativo de crianças e adolescentes vitimados pelo consumo do álcool promovido por estas campanhas publicitárias. Mas se legalizarem oficialmente o consumo de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos, provavelmente as crianças participariam mais neste setor da publicidade.
Os idosos são sempre secundários e dóceis, nunca homens e mulheres capazes de organizar e executar mudanças reais nas sociedades, sempre velhinhas e velhinhos simpáticos. Em geral há um elogio da juventude nestes comerciais de cerveja, onde jovens saudáveis brindam com os amigos e conquistam algumas garotas num estado de felicidade anestesiada.
Em geral é o modo de vida burguês que prevalece na publicidade burguesa (ou a serviço dela). O padrão de existência considerado certo e superior é o padrão estabelecido pela classe dominante, ou seja, a burguesia. O que não for burguês é suspeito, pode ser perseguido, ser motivo de piadas, pode até se tornar uma piada.A realidade que Engels nos apresenta em A situação da classe trabalhadora na Inglaterra dos motivos e conseqüências do consumo de álcool simplesmente não aparece no universo das campanhas publicitárias difundidas por estas empresas, cujas grandiosas verbas publicitárias são aplicadas em diversas mídias, como tv, rádio, jornais, revistas, outdoors etc. Estas campanhas tentam esconder o terror descrito por este autor.
O que temos nestes trabalhos publicitários é a alegria, a festa! Neles, não há a trabalhadora ou o trabalhador pobre exausto depois de uma longa e forçada jornada de trabalho procurando desesperadamente uma bebida qualquer. Neste tipo de publicidade a classe trabalhadora é simpática, feliz e saudável.



Antarctica Sub Zero: Duplamente filtrada, duplamente refrescante.



Desde julho de 2009 o mercado de cerveja recebeu mais um produto: a cerveja Antarctica Sub Zero. Sua divulgação, assinada pela agência AlmapBBDO (SP), contou com filmes e vinhetas veiculadas em emissoras de tv aberta e por assinatura, mídia impressa, spots de rádio, ações promocionais em supermercados e bares noturnos, exibição em salas de cinema, outdoors etc. Como mencionado acima, trata-se de uma campanha publicitária milionária.
Dentro desta enorme campanha, escolhemos a série de filmes protagonizados pelo ator Rodrigo Lombardi. Mais especificamente, iremos nos deter na fictícia fábrica da nova cerveja, cujo ambiente de produção da cerveja produzida a -2 graus está vazio e congelado. Não há operários trabalhando, a produção parece absolutamente autonomizada. Uma certa tranqüilidade paira no ar.
Para nós, este vazio congelado pode indicar mais uma tentativa de falsificar o tempo social. A automação absoluta é um sonho para a burguesia (uma utopia das classes dominantes), mas até hoje ela não conseguiu produzir sem explorar centenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras pobres forçadas a vender sua força de trabalho para sobreviver. Mentem ao idealizar a produção capitalista sem a participação direta da classe trabalhadora, ela é a classe social que carrega esta produção nos ombros.
A paisagem fria e deserta deste filme é irreal e a-histórica, ou seja, ela existe apenas a partir dos interesses particulares dos seus produtores diretos e indiretos. O tempo da produção capitalista sem o esforço destes seres humanos não existe, o que existe é, ao contrário, seres humanos historicamente submetidos a toda sorte de trabalhos forçados.


Filosofia de Vida


Em 2008 a marca Brahma inicia uma nova fase de comunicação com a campanha publicitária Brahmeiro, que pretende uma identificação entre a marca e os consumidores. Segundo a campanha, Brahmeiro seria um brasileiro que trabalha honestamente, que apesar das tragédias sociais tem fé na vida e não desiste nunca. Um guerreiro bebedor de cerveja barata:


O Sabor de ser Brahmeiro

Ser Brahmeiro é mais do que gostar de Brahma.
É ser guerreiro.
É correr atrás. Não desistir nunca.
Pra Brahmeiro, a batalha tem um sabor especial.
E, quanto mais suada, melhor.
Porque Brahmeiro sabe que o que é suado tem mais sabor.
A derrota às vezes vem, e pode até derrubar uma lágrima.
Mas não derruba um Brahmeiro. Porque nós damos a volta por cima.
Ser Brahmeiro é ser do bem e ser responsável.
É celebrar as conquistas com a família e os amigos.
Mas sem passar da conta, sabendo comemorar.
Guerreiro que é guerreiro bate no peito com orgulho e fala:
Sou Brasileiro. Sou Brahmeiro.


Segundo a campanha, esta é a filosofia da marca. E é esta filosofia que a marca deseja que a classe trabalhadora adote, porque ser brahmeiro é mais que consumir a cerveja da marca Brahma, ser brahmeiro é ser guerreiro! É o trabalhador pobre que luta desesperadamente para manter a família viva. O ser humano explorado no trabalho, violentado pelas instituições burguesas: aquele que passa horas em filas de hospitais públicos e muitas vezes não é atendido, o indivíduo abordado e humilhado quase que diariamente pela polícia etc.
Ser Brahmeiro é ser do bem e responsável. Mas o que vem a ser do bem e responsável? Se o Brahmeiro é do bem, quem seria do mal? Ser do bem é estar mais próximo de Deus e das leis oficiais? Responsável no trabalho? Na escola? No exército? No presídio? Responsável para celebrar com os amigos e a família, mas com moderação?
Sou Brasileiro. Sou Brahmeiro. O nacionalismo sugerido pela campanha publicitária é o mesmo nacionalismo que joga milhares de trabalhadores pobres num campo de batalha ou seria um nacionalismo que lota campos de futebol, onde os times rendem milhões para máfias nacionais e internacionais?
Estéril para a classe trabalhadora, esta filosofia brahmeira não pode contribuir para um processo revolucionário cujo objetivo é o fim da exploração. Este tipo de filosofia impotente só pode levar a classe trabalhadora à comprar ou querer comprar uma garrafa de cerveja, um parceiro sexual, uma roda de amigos, um carro luxuoso, uma festa. Uma festa paga e libertina, mas uma libertinagem modelada segundo os interesses majoritários. A festa professada por esta filosofia é burguesa, opressora, machista, homofóbica e racista. Estúpida, a forma de vida desta filosofia segue as leis do mercado.

Conclusão

Publicidade burguesa e luta de classes, marcas de cervejas e alcoolismo. Estes elementos de nossa sociedade não estão em hipótese alguma separados. A publicidade e o alcoolismo, pensados a partir de Engels, são duas formas eficazes de controle e matança da classe trabalhadora. Porém, apesar de toda produção e consumo em série de bebidas alcoólicas e publicidade burguesa anti-operária, a classe trabalhadora permanece sendo a classe social capaz de ameaçar e destruir o modo de produção da vida no capitalismo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Maiakovski - Poesia e Revolução




















Este texto está
em construção. Façam comentários,
trata-se de mais um texto coletivo anônimo em processo.














Vladímir Maiakovski








Poesia e Revolução

início
Maiakovski se dizia poeta. E justamente por isto se achava interessante. E sobre isto escrevia. Filho de um guarda-florestal, nasceu em 7 de julho de 1893 e passou a infância na aldeia de Bagdádi, nos arredores de Kutaíssi, na Geórgia.

fome
Após a morte do pai em 1906, a família ficou na miséria. Depois do enterro de seu pai, sobraram-lhes apenas 3 rublos. A família vendeu febrilmente suas mesas e cadeiras para comprar comida. Transferiram-se para Moscou.

vapor para Moscou
Continua seus estudos em Moscou, mas as coisas vão mal quanto à comida. Ele pinta e vende ovos de Páscoa, um velho costume russo de pintar ovos de galinha para oferecer como presentes. Sua mãe trabalha servindo refeições numa pensão. Maiakovski conhece estudantes pobres socialistas.

socialismo
Discursos, jornais etc. Conceitos e palavras desconhecidas. O jovem Maiakovski exige explicações a si mesmo. Lê até a embriaguez as obras clandestinas que vazavam dos quartos estudantis. O prefácio à Crítica da Economia Política de Karl Marx foi uma obra de arte que lhe causou imenso entusiasmo, a que talvez tenha lhe causado maior entusiasmo. Começa a fazer discursos com pedrinhas na boca.

revoluções
Em 1908 ingressa aos quinze anos na fração bolchevique do Partido Operário Social-Democrata Russo. Atua como propagandista. Vai trabalhar com padeiros, sapateiros e gráficos.

Prisões na adolenscência
Maiakovski, em 29 de março de 1908, com quinze anos de idade é cercado em Gruzíni em uma tipografia clandestina. Comeu o bloco de notas com os endereços. É levado para a delegacia em Priésnienski pelos soldados da Okhra, a polícia política do regime czarista.
O jovem Maiakovski e o Departamento de Segurança do czar Alexandre III, criado em fins do século dezenove para reprimir os partidos políticos Narodnik e Partido Operário Social-Democrata Russo, contrários ao regime czarista. O jovem Maiakovski e a polícia secreta do czar usada para reprimir as massas insurgentes.




Estes digníssimos senhores foram dirigentes desta polícia em 1905. Felizmente estão todos mortos, mas deixaram um legado pavoroso de tortura e morte para a História. Maiakovski, militando aos 15 anos no Partido Operário Social-Democrata Russo (ala bolchevique) colocou-se diante de um fato: as polícias servem para reprimir a classe trabalhadora e toda forma de insubordinação. Segundo autores como Marx ou Lênin, elas devem ser dissolvidas. Em maior ou menor grau, Maiakovski terá problemas com polícias durante a vida toda.
Em 2 de julho de 1909 é apanhado novamente. Ocupou a cela individual número 103 em Butirki por onze meses, onde leu os simbolistas, Biéli, Balmont, Byron, Shakespeare, Tolstoi, etc. Maiakovski mantém contato com clássicos da literatura mundial. Escreve seus primeiros rascunhos em poesia. Conforme ele mesmo, saiu algo postiço e chorosamente revolucionário:

Espero, e os dias se perdem nos meses,
Centenas de dias sem fim.

Por determinação da Okhrana, é obrigado á ter residência forçada durante alguns anos. Durante essa prisão, seu primeiro caso é julgado e o declararam culpado, mas como não tinha idade para ser condenado, teve que ficar sob vigilância policial e responsabilidade materna.
Ao sair da prisão decide que quer fazer arte socialista, mas, segundo um companheiro de partido, tem as tripas finas. Interrompe o trabalho partidário e começa estudar. Nas escolas de arte, rejeita os imitadores e apóia os enxotados. Não tem bons antecedentes políticos.

1912
Aos dezenove, vinte anos, conhece pintores e poetas como M. F. Larionov, I. I Machkov, David Burliuk., V. Khlébnikov, A. Krutchônikh etc. Após algumas noites de lírica, Maiakovski, Burliuk, Khlébnikov e Krutchônikh, lançam em 1912 o manifesto coletivo "Bofetada no Gosto Público".Debates, discursos enfurecidos. Propõem uma renovação estética radical demais para a velha Rússia czarista. Arte moderna e Autocracia.
O rosto de um tempo dominado pela máquina, pelo movimento da máquina; a luz elétrica e o poeta; os vapores de um mundo dominado por novas técnicas. Os poetas devem ter o direito de aumentar o número de palavras criadas arbitrariamente, devem odiar toda a velharia produzida na velha Rússia czarista. Assobios e indignações. Estes poetas não quiseram deixar rastros do bom sentido, do bom gosto, quiseram a palavra autônoma.
A. M Ripellino em "Maiakovski e o Teatro de Vanguarda" (1971), destaca os elementos que deram ao empreendimento "cubo-futurista" um contínuo caráter espetacular. Ainda conforme Ripellino, no artigo "Carne também para nós!" (1914), Maiakovski escreve: "O futurismo é para nós, jovens poetas, a capa vermelha do toureiro".
Vassíli Kamiênski recorda em suas memórias (Vida com Maiakovski) a primeira apresentação pública do grupo na ponte Kuzniétzki: Burliuk veste uma sobrecasaca com listras de várias cores, um colete amarelo com botões de prata e uma cartola; Kamiênski veste seu terno parisiense cor de cacau guarnecido com brocados de ouro e uma cartola; Maiakovski desenhou com um lápis de sobrancelha um aeroplano na testa de Kamiênski e um carrorrinho com a cauda levantada no rosto de Burliuk.

Espetáculos Futuristas para o desagrado do bom gosto burguês.

"A Primeira Noite na Rússia dos Criadores da Palavra" foi realizada em Moscou a 13 outubro de 1913. Sobre um fundo de telas pintadas por Casímir Maliévitch, Vassíli Tchekríguin, David Burliuk, o poeta Krutchônikh balbuciou frases desconexas, borrifando com uma xícara de chá quente os espectadores das primeiras fileiras, Nicolai Burliuk leu uma lição de seu irmão David, intitulada "Ordenhadores de sapos extenuados" e Maiakovski pronunciou a conferência "A Luva", onde resume numa luva de seis dedos seus temas mais urgentes na época, como a inovação e criação de linguagens, apropriação dos aspectos urbanos nesta nova poesia, canções de ninar executadas por orquestras de goteiras, a faísca elétrica, os braços construtores das cidades, as rugas de gordura nas poltronas e os trapos coloridos da alma.
Na noite de 19 de outubro de 1913, na inauguração do cabaré futurístico "O Lampião cor-de-rosa" em Moscou, Maiakovski leu os versos de "Tomem Isto"!, deixando exasperado o público burguês presente. Maiakovski, supostamente incompreensível pelas massas, supostamente intraduzível, exige uma certa dose de desafio. Poeta de procedimentos arriscados se distancia radicalmente de qualquer orador empolado. Inventou uma linguagem poética complexa, áspera e revoltada. A suavidade pouco lhe importou.
Social e artisticamente revolucionário, era amigo do palavrão, das ruas e dos comícios. Produziu versos em tempestades. Escreveu artigos de jornal, poesias, escritos de poética, peças de teatro, roteiros de cinema, cartazes etc, recusando violentamente as normas estabelecidas da poética tradicional. "Não forneço nenhuma regra para que uma pessoa se torne poeta e escreva versos. E, em geral, tais regras não existem. Chama-se poeta justamente o homem que cria estas regras poéticas". Sua poesia se alitera. Hiperbólica, descomunal, assonante, dissonante; sua rima é inusitada para justamente fugir dos clichês da poesia dócil dos salões imperiais.

tumultos - 1913
Maiakovski está trabalhando em tumultos artísticos anti-burgueses. Publica o artigo "Teatro, cinema, futurismo", com ataques ao realismo da época. Apresentação da tragédia "Vladímir Maiakovski", Segundo Ripellino, no segundo capítulo de sua obra - "Fantoches em Petersburgo", o primeiro trabalho dramático de Maiakovski. Ripellino diz que o texto enviado à censura tinha na capa escrito "Tragédia": Maiakovski.
O censor trocou o título pelo nome do autor e deu permissão para que fosse encenada a "Tragédia Vladímir Maiakovski". Para evitar novos contatos com a censura e achando que este título daria conta de seus anseios, aceitou a burrice do censor como título para seu primeiro monodrama. Um monodrama de dois atos, um prólogo e um epílogo.
A "Tragédia Vladímir Maiakovski", segundo o autor seria uma grande confissão do "eu" exasperado do poeta. O poeta é o tema, o personagem principal da obra que em primeira pessoa se dirige a um mundo de miseráveis e formas estranhas.
Além de Maiakovski, personagem principal (20-25 anos), há a sua volta figuras como "uma Conhecida", de 5-6 metros de altura, um velho milenar e suas gatas pretas secas, um Homem sem uma orelha, um Homem sem a cabeça, um Homem de rosto alongado, um Homem com dois beijos, um Comum jovem, uma mulher com uma lágrima pequena, outra com uma lágrima e uma outra com uma lágrima grande.
No início há uma festa de mendigos nas ruas de uma cidade. A revolta paira no ar. Maiakovski incita a insubordinação dos oprimidos. Os miseráveis se rebelam contra os opressores e as coisas se rebelam contra os seres humanos. O velho convida a multidão à alisar suas gatas para produzir faíscas elétricas e o Comum jovem acusa a multidão de crueldade.
No segundo ato a revolta se esfumaçou em tédio. O poeta veste uma toga e traz na cabeça uma coroa de louros. As mulheres choram. Maiakovski recolhe as lágrimas numa mala e as atiram a um deus primitivo. O único verdadeiro personagem é Maiakovski, os outros são fantoches mecânicos. Os esfarrapados, as revoltas populares, dão á esta peça futurista um tom social. Maiakovski estava ligado às lutas de seu tempo, suas invenções não morreram num esteticismo vulgar e burguês, de supostas formas puras. Maiakovski apresenta de forma alucianada a miséria que cobria as cidades russas anos antes da Revolução de Outubro.


Mídias Burguesas
Maiakovski era chamado pelos jornais de "filho de cadela". Blusa amarela e gravatas gigantes: a gravata desproporcional ao estado das coisas causa furor. Os príncipes das artes pedem o fim da crítica e das agitações. Maiakovski é expulso dos quartéis-generais da arte. Este grupo era radical demais para as Escolas de Arte Burguesas.

Rússia
Para difundir suas concepções artísticas, percorrem a Rússia. Noites de poesia: realizam conferências sob a vigilância das autoridades. A polícia serve para interromper o novo. Governos de províncias em alerta.

monopólio editorial e o filho da cadela
Os editores não querem saber de Maiakovski. O nariz capitalista fareja dinamitadores. Seus poemas são proibidos.
Hoje, com uma produção poética radical, já que vivemos numa sociedade democrática, será que Maiakovski seria lido pelas massas? Será que Maiakovski iria aparecer no programa do Faustão? Será que ele ia ser entrevistado pela Marília Gabriela?

Primeira Guerra Mundial


Em 1914 conhece o horror decorativo e ruidoso da guerra. Depois a guerra lhe pareceu detestável. Maiakovski detestou a carnificina imperialista que foi a Primeira Guerra Mundial. A idéia da proximidade da revolução se fortalece.



1917

A Rússia era uma monarquia no começo de1917. Em outubro deste mesmo ano, ocorre no país, de 150 milhões de pessoas, a primeira revolução socialista. Populações conscientes e organizadas na tomada revolucionária do poder tentaram imprimir na realidade seus próprios caminhos: não quiseram entregar suas vidas para os especialistas em opressão.
Para Maiakovski a revolução socialista era inevitável. Os bolcheviques. Recusar a revolução? Maiakovski foi para o Instituto Smólni, antiga escola para as senhoritas da nobreza, que havia se transformado na morada estratégica do bolchevismo.
Segundo Leon Trotsky em "Literatura e Revolução" (1922-1923), havia em Maiakovski uma vontade sincera de ser revolucionário, antes mesmo de ser poeta. Se antes era um poeta que rejeitou o velho mundo sem abandoná-lo, depois de outubro de 1917 procurou um ponto de apoio na Revolução, que a defendeu até o fim, porém, não se confundiu com ela, não participou, segundo Trotsky, dos anos duros de preparação clandestina.
Trotsky, Lenin e outros revolucionários trabalharam arduamente na construção da revolução socialista na Rússia e no mundo desde 1905, quando se deu a primeira revolução neste país. Estavam na clandestinidade desde esse período, foram exilados, muitos foram presos ou assassinados pelo regime czarista. Atuaram na revolução de 1905, foram derrotados e em 1917 conseguiram derrubar o czar e instituir o primeiro Estado Operário.
Em 1913 Maiakovski, Burliuk., V. Khlébnikov, A. Krutchônikh estavam revolucionando a linguagem para o desagrado das belas letras burguesas, os bolcheviques estavam se preparando para a primeira revolução socialista do mundo.
Maiakovski está longe de ser um herói porque heróis não existem. A Revolução Socialista na Rússia exigiu o trabalho de milhões de pessoas e após 1917 Maiakovski também trabalhou, fez cartazes, leu seus poemas, etc.
Ainda segundo Rippelino, os futuristas e especialmente Maiakovski, então com 24 anos, que se encontrava em Petrogrado, acolheram a Revolução de Outubro de 1917 como "um furacão que varreria longe o academicismo e a velharia retórica". Esta Revolução representou para estes poetas uma libertação da pasmaceira burguesa. Entusiasmado, Maiakovski produziu inúmeras poesias, participou de disputas e difundiu manifestos.
Transfere-se para Moscou a 05 de dezembro de 1917. Moscou estava fervilhando de cafés literários abarrotados de poetas, pintores, vagabundos e aventureiros: "Estrebaria do Pégaso", "Cofrezinho Musical", "Pitoresco" etc. Maiakovski frequentou o "Café dos Poetas", refúgio dos cubo-futuristas, fundado em outubro de 1917 por Vassíli Kamiênski e pelo "futurista da vida", V. Goltchsmidt, numa estreita lavanderia do beco Nastássinsk. Este "Café", definido por Maiakovski como "cabana de cowboys", foi decorado por Tétlin, Iakulov, Lentulov e outros pintores. Maiakovski desenhou numa parede um elefante vermelho e na barriga a assinatura: Maiakovski. Junto com Kamiênski, Burliuk, davam espetáculos a cada noite. Maiakovski, brilhante e sagaz, deixa os mais moderados sem fôlego. De sua boca voam pedras.
Em março de 1918, junto com Burliuk e Kamiênski redigem o único número do "Jornal dos Futuristas". Maiakovski publica uma carta aos operários, os poemas "A nossa marcha" e "Revoliútzia". Em junho de 1918 volta a Petrogrado. O "Café dos Poetas" fechara a 14 de abril de 1918.
Nestes primeiros anos, futurismo e revolução, conforme Ripellino, parecem idênticos. Revolução estética e Revolução Social. Os poetas futuristas, ansiosos por liberdade de criação, acreditavam que este movimento era capaz de expressar as turbulências revolucionárias. Expressam em suas obras o ritmo, os temas e os objetivos da Revolução: Tátlin e o seu projeto à Terceira Internacional, a comédia "Mistério-Bufo" de Maiakovski e seu poema 150. 000.000, o drama "Stienka Rázin" de Kamiênski, os espetáculos de Meyerhold.
Maiakovski decreta em 1918 e, "Ordem ao exército da arte": "as ruas são nossos pincéis/ as praças nossas paletas".
No início de 1918 é instituido no âmbito do Comissariado do Povo para a Instrução. o IZO ou "Seção das Artes Plásticas", organismo estatal presidido pelo pintor D. Sterenberg. O IZO era dividido em dois "colégios artísticos" autônomos: o de Petrogrado (Maiakovski, Óssip Brik, N. Altman, N. Púnin) e o de Moscou (Maliévitch, Tátlin, Kandínski, Rodtchenko, O. Rózanova e outros).
Conforme Ripellino, através destas seções o regime soviético apoiava as correntes mais audazes. Esta seção, onde se agrupava parte significativa das vanguardas, teve o controle das escolas, galerias, jornais e museus. Organizou inúmeras exposições de pinturas vanguardistas, ornamentaram com telas os trens e as ruas da cidade. Painéis enormes escondiam as antigas fachadas dos velhos edifícios.
Em um "decreto" de 1918, assinado por Maiakovski, Kamiênski e Burliuk, convidam pintores e escultores para pegar latas de tinta e pintar as cidades, as estações e os vagões ferroviários. O povo russo pode admirar ao aberto grandes obras de Chagal, Ékster, Sterenberg, Altman. Vitebsk, uma cidade de província, foi transformada num fabuloso centro da pintura moderna, os bondes, as vitrines, as casas foram cobertas.
Eisentein, citado por Ripellino, diz que nas ruas principais uma tinta branca cobre os antigos tijolos desta cidade provinciana. E sobre este fundo branco espalham-se círculos verdes, quadrados laranjas, retângulos azuis: é a Vitebsk de 1920. Pelas suas paredes atuaram o pincel do pintor Casímir Maliévicht.
A arte de vanguarda sai das galerias e vai para o meio do povo: "às ruas, futuristas, tamborileiros e poetas"
Ou seja, Maiakovski não pegou em armas contra os trabalhadores pobres na Rússia, não apoiou a contra-revolução burguesa que tentou a todo custo acabar com a insurreição revolucionária.
A poesia afinada às concepções da Revolução Socialista quer a transformação radical das sociedades para que todos - cada um ou uma - possam se realizar historicamente enquanto sujeitos de suas próprias vidas. E Maiakovski pensou as comunas locais decidindo seus próprios rumos numa perspectiva internacionalista revolucionária.
Populações conscientes de suas potencialidades historicamente construídas, armadas, propondo a abolição da sociedade de classes, abolição da propriedade privada, fim do estado burguês, análise crítica das culturas reacionárias, fim da burguesia enquanto classe dominante, controle popular dos meios de produção (terras, máquinas, tecnologia, empresas etc), fim da divisão sexual do trabalho, fim da divisão social do trabalho, trabalho autônomo e coletivo, fim da usura etc.

1918
O poeta se ocupa da arte. A produção artística começa a ser pensada após a Revolução de Outubro. Fala-se em arte proletária. Elementos contra-revolucionários despontam no horizonte revolucionário.

1919
Organiza-se em Viborg, na Rússia um comfut (núcleo de comunistas-futuristas). O jornal futurista Iskustvo Comúni é editado como órgão do Comissariado do Povo para a Instrução Popular.

1920
Faz uns três mil cartazes e umas seis mil legendas.

1923
A Rússia revolucionária sofre ataques internos e externos. A guerra civil, que nas palavras de Trotsky “é a mais encarniçada de todas as guerras” dizimou grande parte da camada mais decida e experimentada do proletariado revolucionário. A produção debilitada era totalmente voltada para o front.
Após a vitória do exercito vermelho a base da aliança com os camponeses começa a se enfraquecer com os desníveis crescentes entre os preços da cidade e do campo. A NEP tenta solucionar o problema, mas desperta as tendências mais conservadoras ao fortalecer economicamente os setores da pequena burguesia agrária e urbana. Lênin está morto. Tem-se o fortalecimento da Troica (Stalin, Grígori Zinoviev e Lev Kamenev), que durou de 1922 até 1925. De 1925 a 1928, fortalece-se o Triunvirato (Stalin, Rykov e Bukharin). Terror anti-soviético se apoiando nos setores favorecidos pela NEP. Os revolucionários são perseguidos e assassinados por estes setores reacionários do Partido Bolchevique. Para manter seus privilégios, precisam barrar a revolução na Rússia e no mundo, criam a teoria do socialismo num país só. Iniciam uma série de repressões. Um ataque brutal para uma revolução que se pretendia internacionalista. Centrismo, termidor, bonapartismo e totalitarismo. A história se repete como tragédia e principalmente como farsa:







No campo da arte e da cultura em geral desenvolve-se também teorias contra-revolucionárias, setores burocratizantes do partido bolchevique querem criar uma arte oficial. Querem decidir o que e quando pintar, ler, escrever, atuar etc.
Maiakovski organiza a revista Lef, sigla de Liévi Front (Frente de Esquerda), onde reúne os artistas que representariam a esquerda na produção artística. Querem manter o espírito revolucionário, apreender um grande tema social por meios dos recursos do futurismo, buscando a desestetização das artes industriais: o construtivismo. Artistas que acreditavam que a revolução social tinha de ser acompanhada por revoluções estéticas. Poesia e Agitação.

1925
O Proletário Voador ou Vai Dar tu Mesmo uma Volta Pelos Céus a Esmo. Coletânea de agitações.

1928
O trabalho só lhe interessava quando dava alegria.

1930
Maiakovski se suicida com um tiro no peito. Segundo Trotsky - Boletim da Oposição Russa de maio de 1930 - o Secretariado-Geral do Partido, Joseph Stalin, informa oficialmente que este suicídio não tem relação alguma com as atividades sociais e literárias do poeta. Segundo o aviso oficial, o suicídio do poeta não tem relação alguma com sua vida ou sua vida não se relacionava com sua criação revolucionária e poética. A burocracia instalada dentro do partido operário russo, que assassinou centenas de milhares de seres humanos, quis transformar o suicídio de Maiakovski em um fato fortuito.
Mais uma mentira desta burocracia que tentou extinguir a produção artística revolucionária através de doutrinas literárias oficiais. Sob o epíteto de Realismo Soviético, dirigiu-se burocraticamente uma destruição da arte. A negação de todo espírito criador. Maiakovski não estava interessado em ser mais um autor oficial de Joseph Stálin.
Intensifica-se as políticas culturais do stalinismo. Os artistas são obrigados à louvar o camarada Stálin. Reacionarismo estético e político. Os tempos estavam difíceis para os revolucionários. Maiakovski não podia aceitar uma rotina pseudo-revolucionária, era um combatente do verbo e, ainda segundo Trotsky, um dos mais indiscutíveis precursores da literatura que se dará à nova sociedade.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

De como a luta demonstra a vulgaridade do marxismo acadêmico




Cala, e não haverá desgraça.
Oculta-te e fica de lado:
Não te agites pra cá, pra lá,
Não te enerves, bico calado.
(Sextina –Lev Kropivnítzki)

A partir de 2009, um grupo de jovens estudantes críticos ao marxismo acadêmico articulou-se em um grupo de estudos e atuação prática. Neste foi-se aprofundando qualitativamente a compreensão do corpus teórico que compõe o marxismo revolucionário, bem como as forma de atuação prática correlatas, tendo como uma de suas principais conclusões a necessidade da aliança com os trabalhadores.

Em Marília, desde o início do ano, o movimento estudantil preparava-se para mais um ano de luta. Foi realizada uma calourada paralela, desatrelada a calourada oficial da Reitoria e da direção, que pretendia explicitar a serviço de que classe está a universidade. Somou-se a tal processo outro grande exemplo de luta e combatividade dos estudantes que saíram em defesa dos professores da rede pública de ensino contra os ataques do governo Serra. Também no 1º de Maio, dia do trabalhador, estudantes de Marília saíram em apoio ao 1º de Maio na Praça da Sé, que organiza os trabalhadores em luta contra o governo, a burguesia e a burocracia sindical da CUT, Força Sindical, CTB.

A partir de maio, em apoio á luta dos trabalhadores nas estaduais paulistas, contra o corte de salários, em defesa do direito de greve e contra a super-exploração na forma da terceirização do R.U. os estudantes deflagraram greve dos cursos de Ciências Sociais e Filosofia e decidiram em Assembléia Geral ocupar o prédio da direção da FFC. A decisão dos estudantes impactou de forma diferenciada nos setores que reivindicam o marxismo na universidade. A perspectiva do marxismo acadêmico, cansado, castrado e senil, foi de combater e desmoralizar a mobilização dos estudantes e trabalhadores ou então de dar continuidade as atividades como se nada estivesse acontecendo. Por outro lado, a perspectiva, e principalmente a prática, dos que reivindicam o marxismo atuante, militante e revolucionário foi de se colocar ativamente ao lado dos trabalhadores em seus piquetes, trancaços, greves e ocupações.

Com a empáfia que caracteriza os medíocres, os representantes do marxismo acadêmico tentaram a todo custo escamotear o conflito; quando se tornou impossível fazê-lo, dado que as críticas por parte dos marxistas revolucionários se tornavam mais agudas e mais constantes, buscou-se desqualificar o adversário, estigmatizá-lo (como nas em velhas práticas estalinistas – para saber o que chamamos de STALINISMO confira nossa formulação “Para entender o Stalinismo” – http://www.glem-r.blogspot.com/ ).

Apoiados em seus cargos dentro da burocracia acadêmica, no pretenso mérito que estes cargos deveriam lhes conceder, os autoproclamados sábios do marxismo estalinista simplesmente desmereciam os argumentos e as críticas aos quais não conseguiam responder, pois, dentro da lógica meritocrática que segue o pensamento destes senhores, que validade poderia ter a crítica destes reles alunos, pobres mortais que ainda não ascenderam à luz da hierarquia universitária? Estes(as) “garotos(as)” só poderiam ter enlouquecido ao buscar fazer a crítica à sua sabedoria, que é atestada por todos os títulos por eles possuídos.

Mas para os marxistas o que demonstra a correção de uma determinada análise, a concretude de uma dada perspectiva, é a prática militante, revolucionária, e não os papéis emoldurados que enfeitam as paredes dos doutores. E os conflitos que se desenvolveram no último período em nossa faculdade demonstraram de maneira cabal a superficialidade da concepção de marxismo de nossos doutos professores.

Nem tocaremos aqui no fato de que num dos conflitos com mais marcado caráter de classe a se desenvolver nas estaduais paulistas nos últimos anos, na qual o SINTUSP (sindicato dos trabalhadores da USP) ocupou a linha de frente, estes professores se abstiveram de levantar de maneira efetiva a bandeira dos trabalhadores em luta, o que por si só já demonstraria uma profunda incompreensão da relação entre teoria e prática, tão cara ao pensamento marxista. Vamos nos ater aqui a destacar como este pseudo-marxismo, que se afasta da prática militante, tem como reflexo uma decadência no campo da teoria.

Usemos como exemplo afirmações feitas por dois dos próceres do marxismo acadêmico, dois dos mais influentes e mais respeitados da FFC, o Professor Doutor Jair Pinheiro e o Professor Doutor Marcos Del Roio. Em reunião com os estudantes ocupados no prédio da direção, estes professores, que se colocaram na defesa da direção contra os estudantes ocupados, Jair Pinheiro fez entender que quem controla a universidade são os trabalhadores, posto serem eles que pagam os impostos que a sustenta (respondendo a afirmação dos estudantes de que a direção, a congregação e a estrutura de poder da universidade como um todo expressam os interesses da burguesia). Por favor professor, sua constatação correta, de que os trabalhadores sustentam a universidade através dos impostos, apenas torna mais odiosa e criminosa a realidade da universidade hoje no Brasil. O fato de ela excluir os trabalhadores e o povo pobre de seu meio e de maneira alguma faz com que eles efetivamente a controlem, ou pensa o doutor que os trabalhadores prefeririam realmente investir milhões na pesquisa do botox a investir na pesquisa de métodos de prevenção as enchentes que assolam as capitais brasileiras?

A afirmação do professor doutor Del Roio, atual presidente da Adunesp/Marília, é ainda mais estapafúrdia, por sua baixeza, mediocridade, superficialidade. Afirma nosso sábio: “Existe luta de classes na universidade, mas ela não é institucionalizada”. O que se infere daí, que a universidade não é uma instituição de classe, ou seja, que ela é neutra, podendo ser conquistada por qualquer uma das classes em luta. Erro evidente, posto que para os marxistas o estado é sempre um estado de classe, forma organizada de opressão de uma classe por outra, e a universidade é uma das formas de ser do estado, uma de suas manifestações, um de seus aparelhos ideológicos. Como se não bastasse, Del Roio não se cansou de afirmar publicamente o quão irracional, absurda era a greve e ocupação dos estudantes. A luta contra a terceirização e em defesa do direito de greve dos trabalhadores só pode parecer absurda àqueles marxistas que, encastelados e bem acomodados em suas poltronas na universidade, não tem qualquer ligação com a realidade e com os interesses da classe trabalhadora.

Deixaremos para outros a tentativa de responder a questão de se a colocação deste tipo de posição expressa simplesmente falta de capacidade teórica ou a necessidade destes senhores de defenderem suas posições dentro da burocracia acadêmica; tal questão não muito nos interessa, o que interessa realmente é o papel que a defesa de tais posições cumpre, que é: buscar retirar do marxismo sua verve e seu potencial revolucionário, adocicá-lo e lhe fazer dócil, para que seja aceitável à intelectualidade burguesa. Além disso, esvazia as fileiras da luta dos trabalhadores das estaduais paulistas pela isonomia salarial e direito de greve, importante embate contra a escalada reacionária que a burguesia vem intensificando como resposta a crise econômica mundial.

Contra isso nós, marxistas revolucionários, dizemos: não! Vemos no marxismo uma ferramenta teórica a serviço da revolução, não estabelecemos nenhuma relação pedante, fantasmagórica, com esta teoria, uma pretensa leitura dos clássicos neles mesmos, mas do conhecimento fazemos uma arma para transformar o atual estado de coisas e convidamos a todos que sentem esta mesma necessidade a se juntarem a nós.

Nossa crítica não se dirige apenas aos docentes, não se trata de uma disputa corporativa. Muitos estudantes se colocam na defesa do marxismo acadêmico. Além disso, sabemos que nossa crítica não abarca todos os professores marxistas de nossa faculdade. Felizmente existem exceções. E é a esses que fazemos aqui o chamado para que reforcem junto conosco o embate contra o marxismo inofensivo e institucionalizado, tarefa obrigatória para os que se colocam ao lado dos oprimidos em sua luta histórica pela transformação radical da sociedade.

As cartas sempre serão um instrumento limitado de crítica e polêmica. Por isso desde de já convidamos os professores citados na carta ou qualquer outra pessoa que esteja disposta a aprofundar a discussão sobre as posições expostas aqui para realizarmos debates abertos a todos os interessados.
Pelo marxismo militante, atuante, revolucionário

São defensores do status quo burguês, disfarçados de marxistas. Marxistas almofadados incapazes de lutar junto aos trabalhadores. Estão cansados demais para construir greves, piquetes, e ocupações. E a perspectiva revolucionária? E a revolução, caríssimos professores? Estariam reduzidos em frases vermelhas e práticas azuis?

A luta dos trabalhadores é pesada e indigesta demais para nossos doutores em críticas inertes. Sonolentos, reunidos na sala de estar, pisam em tapetes macios e nadam em garrafas de vinhos importados, na embriagues da pequena-burguesia sem vontade de lutar. Fantasiados de vermelho, dançam ao som das burguesias nacionais e internacionais. A luta de classes acabou para estes doutores, estão rendidos.

Meus queridos doutores em cansaço, não nos venham com “chorumelas”, os trabalhadores continuam em luta enquanto vocês dormem o sono pesado da Bela Adormecida cuja foice e o martelo foram substituídos por almofadas e travesseiros. Boa noite nobres professores.
GLEM - Grupo Livre de Estudos Marxistas - próxima reunião: 14 de agosto as 14:00 no saguão da FFC

Para entender o Stalinismo

Alessandro de Moura
Essa foi a primeira tentativa de elaboração sobre a questão do stalinismo. Continuamos tal esforço em três outros textos: 1) http://combateclassista.blogspot.com.br/2015/09/revolucao-russa-1905-e-1917.html 2) http://combateclassista.blogspot.com.br/2015/09/stalinismo-na-russia-estado-operario.html 3) http://combateclassista.blogspot.com.br/2015/08/stalinismo-na-russia-e-no-brasil-parte-i.html

De forma resumida, stalinismo foi uma corrente social-política que se originou com a burocratização da U.R.S.S. Um dos efeitos colaterais dos 4 anos de guerra civil na Rússia, fruto da invasão do país por 14 potencias imperialista, foi a exterminação de parte considerável dos milhares de operários e operárias que compunham a vanguarda que fizera a Revolução em 1917. Tem-se no período pós-guerra civil, 1918-1921, o considerável esgotamento dos revolucionários sobreviventes. As contradições sociais não cessam ai. Começam a desenvolver-se importantes lutas internas no país, primeiro pelo restabelecimento das forças produtivas que ficaram arrasadas com a guerra. Depois ter-se-ia que combater elementos contraditórios gerado pela política criada em 1921 para a reconstrução do país a NEP – Nova Política Econômica, que tinha por fim aumentar a produção agrícola para melhorar a qualidade de vida do proletariado russo, ao estabelecer que quem produzisse mais ganharia mais, possibilitou que uma camada de produtores acumulasse capital.

Foi centralmente a partir da NEP que se desenvolveram os Kulaks, camponeses que conseguiram acumular recursos e privilégios por meio da exploração das massas camponesas (mujiks). Os camponeses acumulavam e com isso desenvolveu-se o comércio de produtos agrícolas nas cidades, os comerciantes, por sua vez também acumulavam. Assim, os Kulaks articularam-se com os Nepmans, comerciantes que também conseguiram enriquecer tirando vantagens da NEP. Após o adoecimento de Lenin em 1922 assume a direção do Partido Comunista a Troica (Zinoviev, Kamenev e Stalin). Porém, Lenin em seu “testamento político” recomenda ao congresso do partido o imediato afastamento de Stalin da Secretaria Geral, porém a troika censurou o documento.

Após a morte de Lenin no inicio de 1923, tem-se o fortalecimento da Troica (Zinoviev, Kamenev e Stalin) que durou de 1922 a 1925, seguida pelo Triunvirato (Stalin, Rykov e Bukharin) que manteve-se no poder de 1925 a 1928, desenvolve-se de forma profunda uma aliança com os Kulaks e os Nepmans, centralmente sobre tal base politica-governamental tem-se consolidação do período do terrorismo anti-soviético.

Para que sustentassem os privilégios atingidos neste período, os Kulaks, Nepmans e a ala burocrática do partido Bolchevique precisavam evitar que a revolução socialista se aprofundasse na Rússia ou que se espalhasse pelo mundo. Então no plano teórico, sob a pena de Bukharin, desenvolveram a teoria do Socialismo num só país, segundo esta, a revolução em si, já implementava 90% do socialismo. Para os outros países onde eclodiam levantes operários, ao invés de defender a autonomia política-organizativa da classe trabalhadora, para que se organizasse contra a burguesia o patronato e os ricos, a burocracia do partido defendia que era necessário realizar a revolução por meio de etapas, primeiro, dever-se-ia desenvolver a democracia burguesa, por meio da aliança com as frações mais progressistas desta.

Trotsky, revolucionário russo que dirigiu o soviete (conselho operário em russo) de Petrogrado em 1905 e também fundou o Exército Vermelho, resgatando o marxismo revolucionário articulou-se com dirigentes e intelectuais e em 1923 lançaram a “Declaração dos quarenta e seis” exigindo a democratização do partido (que burocratiza-se a largos passos) e mudanças na política econômica do país para aprofundar o processo revolucionário. Porém, com a derrota da revolução alemã em 1923 o isolamento da Rússia é consolidado, com isso a troika sai fortalecida. A derrota da revolução alemã leva a marca da troika. Zinoviev então presidente da internacional negara apoio ao proletariado alemão, o que contribuiu para fosse massacrado o proletariado da Alemanha em 1923. A partir de 1924 a ala mais conservadora do Partido Bolchevique chega ao controle do processo revolucionário, desse ano em diante tem-se o desenvolvimento progressivo do Termidor Soviético.

Em 1926 a URSS acumula uma série de contradições sociais que evoluem progressivamente, colocando em risco as conquistas da revolução de outubro e a própria possibilidade de colaboração do proletariado russo para uma revolução mundial. A tendência contrarevolucionária continuou a fortalecer-se. E entre 1926 e 1927 consolidou-se no poder na Rússia, nas palavras de Trotsky em A revolução traída “uma casta incontrolável, estranha ao socialismo”, a revolução social fora traída pelo partido governante que passou à aliança com os setores conservadores e reformistas, pactuando com a democracia burguesa, em ataque direto contra o proletariado e os grupos opositores e semi-opositores, bem como aos elementos isolados que mantiveram atitude critica frente ao termidor soviético. Apostou-se tudo nos Kulaks (camponeses ricos) e nos Nepmans (novos ricos).

Em 1927 Trotsky articula também o grupo denominado “Oposição de Esquerda” para combater forma social-politica contra-revolucionária do Triunvirato Stalin, Rykov e Bukharin, que proclamava “Kulaks enriquecei-vos”. A estratégia desenvolvida por Trotsky ficou conhecida com Teoria da Revolução Permanente, que destacava que a revolução representava na verdade apenas 10% da construção do socialismo, que o socialismo só poderia se objetivar de fato se a revolução socialista fosse realizada em todos os países do mundo.

Por outro lado, os Kulaks e os Nepman que tinham relações diretas com setores dirigentes do Partido Comunista, articulados com a burocracia do Partido, diretamente beneficiados pelas contradições da sociedade russa, buscaram criar mecanismos que prolongassem tal estado de coisas, e que assim assegurassem seus privilégios e benefícios. Para a manutenção de tais benesses era necessário manter as coisas como elas estavam, passar de um Estado de revolução permanente para um Estado de conservação. Os elementos mais conservadores da sociedade russa passam a buscar desmobilizar a todo custo as alas revolucionárias da sociedade. Pois se a busca por transformações constantes na sociedade russa continuasse os Kulaks, os Nepman, e a burocracia inevitavelmente perderiam suas cabeças.

Buscando prevenir-se contra a possibilidade de novos ascensos revolucionários do proletariado, o triunvirato Stalin, Rykov e Bukharin, articulado com os Kulaks, os Nepman e a burocracia estatal, impulsionam uma campanha de amplo alcance afirmando e difundindo interna e internacionalmente que o socialismo já havia sido atingido, que estavam sob o “socialismo real”. Além disso, estes setores passam a afirmar que o socialismo era possível num só pais. Os marxistas revolucionários dentro e fora da Rússia entenderam que essa era uma ruptura profunda com o materialismo histórico dialético. Este chamado “socialismo num só pais” defendia como constitutivo do socialismo real o enriquecimento progressivo dos Kulaks dos Nepmans e os privilégios da burocracia.

Em meio a infinidade de contradições sociais e políticas a ditadura do proletariado foi substituída, por meio de prisões, deportações, desaparecimentos misteriosos, e fuzilamentos, por uma ditadura burocrática, apoiada hora centralmente nos Kulaks hora centralmente nos Nepmans.Victor Serge, que fora membro do Partido Bolchevique, exilado no México em 1947, no livro O ano I da revolução russa afirma que até 1928 havia mais de 30 mil presos políticos na Rússia, mas, segundo o autor, este número cresceu assustadoramente até 1947 para cerca de 10 a 12 milhões! Eliminando os revolucionários aos milhares, quebrando a resistência socialista, cada vez mais aumentava a distancia entre a Rússia e o socialismo.

Já durante a segunda metade da década de 1920 as obras de Trotsky foram proibidas e queimadas na Rússia. Exilando-se em vários países, mas ainda combatendo o regime stalinista e defendendo a emancipação humana Trotsky fora perseguido e assassinado no exílio no México em 1940. De 1927 a 1937 a cúpula contra-revolucionária faz uma nova “limpeza” no partido em âmbito nacional e internacional, em junho de 1937, tem novo impulso a condenação e execução dos dirigentes do Exército Vermelho. Esta nova fase da continuidade a extirpação dos revolucionários, muito mais profunda, elimina desde a raiz os que viveram a experiência da revolução, atinge inclusive a geração intermediária adepta ao bolchevismo e que engajava-se na perspectiva marxista revolucionária. Sabia-se que o stalinismo não poderia triunfar na Rússia caso não se eliminasse a geração revolucionária. Produz-se então uma ruptura sangrenta entre bolchevismo e stalinismo.

Mediante esta poderosa aliança, todos que criticavam o “Socialismo real” ou criticavam o governo do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), eram acusados de serem contra-revolucionários, sendo perseguidos, presos, exilados e fuzilados. Em 1935 Kamenev é “julgado” e fuzilado no Processo de Moscou, em 1936 é a vez de Zinoviev, Rykov e Bukharin. Tratava-se de uma imensa panacéia inquisitória, uma caçada à todos os opositores da burocracia. Como método, não bastava a falsificação das palavras, era preciso suprimir as letras opositoras, e mesmo a fonte delas, pelo julgamento das baionetas. Dento da URSS, bem como nos países em que os Partidos Comunistas dirigiam os processos sociais milhares tiveram este destino. Esta primeira fase, que estendeu-se de 1925 a 1935 (inicio dos processos de moscou) foi caracterizada por Trotsky como uma fase Termidoriana (alusão a revolução Francesa), em que as frações mais conservadoras do processo revolucionário tomam a diretiva dos processos sociais, freando a possibilidade do aprofundamento da revolução. Esta foi seguida pela fase bonapartista, em que Stalin galga certa autonomia em relação a base que se apoiava anteriormente. A ultima fase foi caracterizada como Totalitarismo, em que Stalin gozava de poderes absolutos. O stalinismo em plano geral, representou a transferência do poder político dos órgãos de democracia de massas (Soviets), para as mãos de uma camarilha do PCUS.

Para Marx, o comunismo significa a socialização mundial da abundância e não a socialização da miséria, ou seja, um estágio social onde as riquezas sociais estejam desenvolvidas a tal ponto em que todos os indivíduos poderão se desenvolver em todas as esferas da vida e em toda a sua plenitude. E para que tal estágio floresça, é preciso que as forças produtivas (maquinaria, tecnologias, nível intelectual, etc) tenham suas potencialidades altamente desenvolvidas. Não é demais dizer que no plano teórico, o stalinismo representou a falsificação do marxismo. Frente às dificuldades econômicas que se passava na Rússia, o stalinismo lançara a seguinte tese:

“ Temos, nós mesmos, filhos da Grande Mãe Rússia, cercada de recursos minerais, de imenso território e de vasta população, condições de desenvolver nossas indústrias, nossa agricultura, e demais esferas da vida. Se a indústria não se desenvolve, se a agricultura vai mal, e se logo, nosso povo passa fome e sofre de carestia de bens materiais, isso se deve a indivíduos que corrompem nossa produção, isso se deve aos sabotadores! ”

Dentre esses “sabotadores”, a principal acusação era a de serem trotskistas. Estes defendiam a necessidade da revolução se deflagrar em outros países, como por exemplo a Alemanha, para que a Rússia pudesse absorver os progressos tecnológicos e científicos mais avançados da época.


O stalinismo manchou a bandeira do comunismo com um rio de sangue


Ao longo da existência da U.R.S.S, houve vários movimentos de massas que contestavam a burocracia e reivindicavam que o planejamento da produção fosse decidido pelos próprios trabalhadores. Se a classe operária de outro país conseguisse tomar o poder, isso contagiaria os operários russos e lhes daria novo ânimo para lutar contra a sua burocracia. Para defender os privilégios de sua casta burocrática, os stalinistas se lançaram a freiar e esmagar diversos processos revolucionários. Estrategicamente, o stalinismo é opositor da auto-organização da classe trabalhadora e dos métodos de luta e de representação de massas, pois esses ameaçam constantemente a burocracia. O stalinismo não se restringiu a U.R.S.S, como se fez presente nos demais Estados Operários (China com Mao Tse Tung, em Cuba com Fidel Castro, no Vietnã, etc.), e é representado pelas devidas castas burocráticas desses países. Foi a corrente hegemônica nos Partidos Comunistas do século XX e ainda mantém resquícios hoje em dia. No Brasil, seus principais representantes são: PCB, PCdoB, PCR, ANL, MR8. No movimento estudantil, preferem realizar acordos com a burocracia acadêmica e com o governo por trás dos estudantes (Vide União da Juventude Socialista – UJS impulsionada pelo PC do B).

A luta contra a buguesia, o patronato e os ricos continua
A tragédia que foi o stalinismo, tanto na URSS como pelo mundo afora está diametralmente oposta à emancipação humana e ao materialismo histórico dialético. Aquela experiência deve ser estudada, criticada e superada, em busca de construir socialmente novas possibilidades estratégicas. Estamos dizendo que a compreensão destas experiências humanas deve ser utilizada na elaboração um programa, que abranja não só os Estados operários burocratizados, mas a sociedade capitalista como totalidade, em suas múltiplas determinações contraditórias. É claro que para nós este programa deve articular emancipação política e emancipação humana. Possibilitando liberar e canalizar as energias humanas para uma profunda mudança de sistema social.

De um extremo a outro coloca-se como tarefa a expropriação da burguesia, tanto da nova burguesia surgida no Estados operários burocratizados, como da “velha burguesia” emergida com a revolução burguesa. Para os marxistas revolucionários, trata-se ainda de construir a revolução mundial.

Neste sentido, coloca-se como premente a reconstrução da forma partidária da classe trabalhadora, num partido internacionalista, que comprometido com a transformação social radical, com a revolução internacional proletária, faça das experiências de opressão a que os trabalhadores de todos os países do globo estão subalternizados e profunda penúria da esmagadora maioria das massas. Por isso as experiências dos trabalhadores compõem matéria prima para a superação de tudo que existe. A experiência histórica nos mostrou que uma revolução é impossível sem a participação das massas em grande escala, e que estas massas, para serem vitoriosas devem estar munidas de uma estratégia e um programa. É certo que as insurreições proletárias não dependem do partido para eclodirem, porém é inegável o salto qualitativo das insurreições quando o proletariado passou a se organizar em partidos revolucionários.

A sua posição na estruturação social dá ao proletariado o poder de suspender à vontade, parcial ou totalmente, o próprio funcionamento da economia da sociedade, é indispensável a luta conduzida em comum contra a exploração, pois a luta comum, por meio da experiência compartilhada, cria importantes momentos de solidariedade e de sacrifício, por greves parciais ou pela greve geral, esta por sua vez, em uma série de momentos históricos, avançou de greve geral para insurreição armada, e de insurreição armada para revoluções e de revolução para a ditadura do proletariado. O partido do proletariado, o partido revolucionário, deve tencionar-se à liberação e canalização das energias humanas para a superação do sóciometabolismo do capital.

Não cabe para nós a afirmação abnegadora de que a classe trabalhadora não tem consciência de classe. Na sociedade capitalista todo ser humano está esquadrinhado por relações de classe social (possuidor de meios de produção e despossuídos de meios de produção). Bem como todo ser humano tem percepções das relações de dominação. Ter consciência de classe não significa ter consciência de classe revolucionária (consciência de classe contingente). O mais importante é que o partido revolucionário, atento as alterações produzidas por causas históricas profundas, não pode se adaptar passivamente a todas as mudanças no estado de ânimo das massas, cedendo as frações mais incertas do proletariado. Nesse sentido, a função central do Partido Revolucionário é a de trabalhar permanentemente para revolucionar a consciência da classe operária. Transformando a consciência de classe contingente em consciência de classe necessária. Ajustando-a as tarefas do presente.

Pois o melhor momento para construir um partido proletário revolucionário é certamente o momento em que o proletariado encontra-se subalternizado. Não se pode esperar pela “conjuntura revolucionária” para dar inicio a esta tarefa árdua, é necessário começar já a forjar hoje a vanguarda revolucionária que será o coveiro coletivo da burguesia manhã. O partido revolucionário deve forjar-se no período anterior aos ascensos proletários. Os revolucionários necessitam articular-se em um partido revolucionário, o exército conscientemente das necessidades históricas do proletariado deve ser mais forte do que o exército contra-revolucionário do capital, intensificando suas ações defendendo as tentativas de auto-organização operária, pautando o programa histórico do proletariado. Apenas a ditadura do proletariado contra as classes dominantes é que pode realizar a reforma agrária, como apenas sobre o controle operário da produção se elimina a desigualdade sócio-material. Apenas o proletariado pode levar a cabo a dissolução das classes sociais, abolição da propriedade privada e dissolução do Estado, para assim, novamente como dissera o poeta Maiakovski, “desatar o futuro, pois este não virá por si só”.

 
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